A exposição ATensão trouxe um conjunto de 20 obras de grandes proporções que mexeu com a forma como vemos os prédios do Centro Cultural Banco do Brasil: barco e elevador flutuantes, janelas para jardins imaginários e até uma piscina em que o visitante pode entrar de roupa e ficar submerso sem medo de se afogar fizeram parte da mostra de um dos nomes mais provocativos e populares da arte contemporânea, o argentino Leandro Erlich. O nome é bastante explícito, “A tensão” (e sonoramente ambíguo: quem não lê pode ouvir “atenção”), revelador de um dos prováveis sentimentos que os visitantes sentiram diante das instalações do artista. Isso porque Erlich trabalha com referências que são, literalmente, “lugares-comuns”, espaços que estamos acostumados a ver no dia a dia, mas deslocados da condição de normalidade.
A obra de Leandro Erlich é estruturada no mecanismo da dúvida. O que nossos olhos veem está em desacordo com o que nossa mente conhece. Leandro Erlich, nascido em 1973 e produzindo suas obras em seus ateliês em Buenos Aires e Montevidéu, está, assim, constantemente rompendo as fronteiras que normalmente acreditamos existir entre a realidade e a ilusão. Um exemplo importante desse ilusionismo artístico foi a forma como fez “desaparecer” a ponta do obelisco de Buenos Aires, gigantesco monumento erigido em 1936 em comemoração aos 400 anos de fundação da cidade, e que domina a paisagem nas proximidades da Casa Rosada, sede do governo argentino, “realocando” essa ponta na entrada do Malba.
Mais “universal”, no entanto, é a obra “Piscina”, que foi instalada nos pátios dos CCBBs. Sucesso onde quer que seja exposta, a piscina de Erlich é uma instalação em que as sensações são absurdas tanto por quem entra nela – sem se molhar – quanto para quem está do lado de fora: uma camada de água entre o lado de fora e o de dentro dela cria a ilusão de que as pessoas ao fundo estão de fato mergulhadas numa piscina em que não precisam respirar.
Em diferentes trabalhos, Erlich recorre à ideia de recorte visual sugerida pelas janelas. Um desses trabalhos, exposto na exposição, se chama, justamente, “Between Windows”. “O que guarda a memória? Nosso cérebro ou nossos olhos?”, perguntou o artista, de forma retórica, durante uma entrevista para uma exposição no Japão. “Gosto da ideia de pensar que o olho, ou o vidro, também são capazes de guardar histórias”. É justamente essa a proposta de Erlich ao fixar paisagens, situações imaginárias e inusitadas, em objetos arquitetônicos ou decorativos, como uma janela ou um falso espelho num elevador.
Segundo o crítico Hans Herzog, as obras de Erlich podem, de alguma maneira, ser comparadas com os trompe-l’oeils de Escher. O espanto e a surpresa que provocam instantaneamente “chegam a ser levemente sinistros”, afirma Herzog, tornando evidentes sua ambiguidade e seu absurdo. “Em última análise, as instalações de Leandro Erlich se voltam contra uma determinação precipitada da função e do significado dos objetos que nos cercam – confundindo completamente nossos sentidos e nos fazendo refletir sobre o que é realidade e o que é ilusão”.
Um outro crítico, o argentino Rodrigo Alonso, defendeu que obra de Leandro Erlich rompe com os automatismos de nosso mundo ao utilizar recursos como “desafiar a gravidade, inverter os espaços, enganar o olhar, transformar o espectador em voyer, forçar as perspectivas, manipular a duplicidade, instrumentalizar os efeitos especiais, incentivar a curiosidade, converter o espectador em ator, ativar cenários banais, perturbar a temporalidade mundana, expandir os espaços, abrir janelas para outras realidades, reinterpretar o cotidiano, suspender as definições do verdadeiro e do falso, construir verossimilhança, provocar identificação, potencializar o insólito”.
Ao deslocar o conhecimento prévio do espectador daquilo que poderíamos chamar, agora recorrendo a um lugar-comum da linguagem, de “zona de conforto”, Erlich coloca o expectador necessariamente em confronto com o que dizia sua experiência sobre dada situação, exigindo um engajamento e uma atenção participativa para desvendar cada obra.
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