Lentes da Memória – A Fotografia de Alberto de Sampaio

Essa é uma exposição sobre o homem comum, apaixonado por imagens, e diletante, que fez da fotografia e do cinema seu refúgio da memória. Alberto de Sampaio foi um amador, por quarenta anos, queiniciou sua atividade em fins do século XIX -verdadeiro oficio exercido por um peregrino das artes que se aventurou também pela poesia e pintura. Mas ele, estava acompanhando seu tempo e o tom em voga era a modernidade técnica a remodelar percepções visuais. A fotografia, o primeiro grande encanto, foi um artefato em ação. A pura diversão, a magia da criação como deleite intelectual e, por fim, a memória como um aprendizado,seduziaàquelesque podiam passar longas horas em seus laboratórios, em meio a químicas e objetos de precisão. Alberto de Sampaio nasceu no Rio de Janeiro em 1870 e passou a maior parte de sua vida na cidade de Petrópolis. Suas fotografias são relatos escritos em imagens, que, de todos os tipos, demarcam certopasseio iconográfico por cartões postais, revistas ilustradas e o cinema em seus anos iniciais. Uma era de abundâncias e excessos se anunciava. Os fotógrafos amadores surgiam, participando ativamente desse profuso ambiente em movimento. Havia aqueles que fundavam Photo-Clubes, as primeiras sociedades de fotografia formalmente organizadas em nosso país; e outros que se deleitavam com as facilidades de câmeras como a Kodak. Divisões que podiam existir em algumas circunstâncias, em espaços delimitados, mas não para o amador Alberto de Sampaio. Ao longo de sua produção, esse advogado se interessou por todos os universos com o qual manteve contato. Sua fotografia é o retrato de uma época e das possibilidades que surgiam;imagens queultrapassam limites e nos revelam também subjetivas intimidades. Através das fotografias, entramos na casa desse amador, abrimos suas janelas e vemos a luz das pequenas brechas, numa materialidade convertida em objeto. Porém, os gestos contidos e a cena montada para ser natural foram sendo substituídos por tomadas imprecisas, simples materiais da memória. Um movimento feito numa longa duração, em que o amador erudito se transformava,ao longo dos anos, em mero aprendiz do registro memorialístico. A mesma trajetória é observada nas fotografias da cidade que ele escolheu como seu tema urbano por excelência. Era o Rio de Janeiro remodelado, em sua modernidade ambivalente, dos anos da reforma Pereira Passos, entre 1902 e 1906. A Avenida Central revelava-se em instantes fotográficos pelos nossos mais prestigiosos profissionais. Alberto de Sampaio, com olhar atento, também estava em algumas inaugurações, mas ele não procurava a moldura de um espaço exemplar. Por suas lentes, observamos uma cidade em construção que, redesenhada inúmeras vezes, traria as marcas de seu cenário impreciso, constituinte de um projeto em que o espaço externo, a fachada, eratransformada em seu inverso, a estrutura cambiante da metrópole que surgia. Nos anos finais de sua vida, outra paixão iria fazê-lo quase abandonar a fotografia. A partir de 1927 até 1930, a memória da cidade foi convertida nas cenas em movimento, produzidas com a câmera de 16 mm. Ali, todos os tempos se colidiam e o passado se fazia presente numa apoteose de imagens interrompidas, um tipo de discurso visual que iria fascinar e impregnar nossas mentes no século XX.
 
   
  • São Paulo 18.09.2015 a 01.11.2015 – Instituto Tomie Ohtake
  • Rio de Janeiro 08.10.2016 a 04.12.2016 – Centro Cultural Correios

Ficha Técnica

Curadoria

  • Adriana Martins Perreira

  • Coordenação Geral

  • Rodolfo de Athayde
  • Ania Rodríguez

  • Gerenciamento de Projeto

  • Jennifer McLaughlin

  • Coordenação de Montagem

  • Karen Ituarte

  • Assistente Executiva

  • Daniele Oliveira

  • Gestão Financeira

  • Lisiany Mayão